Loading...
Please wait, while we are loading the content...
Similar Documents
A beleza como variável econômica: reflexo nos mercados de trabalho e de bens e serviços
| Content Provider | Semantic Scholar |
|---|---|
| Author | Dweck, Ruth Helena |
| Copyright Year | 1999 |
| Abstract | This study analyses the evolution of the workers’ profile in personal esthetics and hygiene in Brazil, during the 1985/95 period, taking as reference the results of some empirical researches done during the previous decade in the US. Such researches emphasize the influence of the “beauty” in the labor market of this segment, transforming it in an important economic variable, which was the main reason for the modernization of this segment, with positive reflexes in the occupational structure. It can be argued that this movement, which led to the growth of activities related to beauty, observed in the American society at the end of the 70’s and the beginning of the 80’s, occurred in the last decade in Brazil. The result was the sophistication and modernization of the related products and services. However, since these services are highly personal, such technological evolution did not reduce the employment, instead, it doubled the people working in beauty activities and improved its profile during the studied period. A BELEZA COMO VARIÁVEL ECONÔMICA — REFLEXO NOS MERCADOS DE TRABALHO E DE BENS E SERVIÇOS 1 1 INTRODUÇÃO — CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO Este estudo tem por objetivo a análise da evolução do perfil da mão-de-obra nas atividades que compõem o segmento de estética e higiene pessoal, no período 1985/95, no Brasil. A escolha deste segmento deve-se a um conjunto de fatores relativos à característica intrínseca do emprego gerado por ele, assim como pelo volume de recursos que movimenta, seja na indústria de bens como de serviços. Além disso, devido à importância que a “beleza”, como fator discriminatório, exerce no mercado de trabalho, transformando-se em variável econômica importante nessa área, com forte impacto no segmento em estudo, conforme indicam pesquisas realizadas nos Estados Unidos e Canadá [ver Brand e Ahmed (1986) e Hamermesh e Briddle (1994)]. Até a década de 70 somente a discriminação por sexo e raça no mercado de trabalho era objeto de debate na literatura socioeconômica. Os movimentos pelos direitos civis nos Estados Unidos e o das mulheres na Europa e nas Américas geraram inúmeras pesquisas sobre esse tema, realizadas por antropólogos, sociólogos e psicólogos sociais, envolvendo análises teóricas alternativas à natureza do processo discriminatório [ver Cain (1986) e Jacobsen (1994)]. Só nos Estados Unidos foram feitos vários estudos sobre discriminação com relação a negros, latinos, mulheres, minorias étnicas e deficientes físicos. 1 Em conseqüência, produziu-se uma legislação consistente para proteger esses grupos de atitudes discriminatórias, principalmente no mercado de trabalho. Com o tempo, esse tema foi se ampliando, conforme registra a literatura, passando a incorporar também uma nova forma de discriminação relativa à aparência física. Este estudo limitar-se-á à exploração apenas desse aspecto da questão, devido à sua influência no segmento de higiene pessoal, objeto de análise, e também pelo caráter pioneiro desse enfoque. 2 A ampliação do conceito de discriminação, incorporando a questão da aparência física, fez com que “beleza”, expressão máxima da aparência pessoal, se revelasse como tema importante de pesquisa na literatura econômica internacional, pela repercussão que tal predicado tem exercido no mercado de trabalho. Segundo Hamermesh e Briddle (1994) as pessoas de aparência simples ganham muito menos que as pessoas de boa aparência. Ademais, eles afirmam que a penalidade pela simplicidade é 5% a 10% maior do que o prêmio pela beleza. E isso se verifica tanto para as mulheres como para os homens, o que explica, em parte, a mudança na demanda de serviços de estética e higiene pessoal, nos anos 70 e 80. Esses autores observaram que as barbearias, restritas basicamente a cortes de cabelo, estão desaparecendo, não apenas nos Estados Unidos como no mundo inteiro, dando lugar aos chamados salões de beleza unissex. 1 Destacam-se os trabalhos de Blau (1976 e 1986), Blau e Hendricks (1979), Beller (1986), Fuchs (1975) e Bergmann (1974) sobre a discriminação por gênero e raça no mercado de trabalho. 2 A pesquisa bibliográfica realizada não encontrou um só estudo sobre este tema na literatura socioeconômica brasileira. A BELEZA COMO VARIÁVEL ECONÔMICA — REFLEXO NOS MERCADOS DE TRABALHO E DE BENS E SERVIÇOS 2 As pesquisas empíricas, realizadas nesse período, 3 pr curaram mostrar a influência da beleza no mercado de mão-de-obra e como ela afeta a seleção para ocupação dos postos de trabalho. Outra questão importante diz respeito à relação desse predicado com o sucesso econômico individual, ou seja, à influência que este atributo tem na renda pessoal. Os resultados das pesquisas norte-americana e canadense evidenciam também o impacto positivo da aparência do trabalhador em seus rendimentos. 4 A importância da beleza como um elemento do processo discriminatório tanto pode ser analisada pelo ângulo do mercado de trabalho, como dos capitais envolvidos na produção dos insumos requeridos ao atendimento dos serviços de beleza. Como variável econômica com forte impacto sobre o mercado de trabalho, trata de desvendar os mecanismos de segregação ou diferencial de salários entre trabalhadores (as), o novo perfil da mão-de-obra na prestação desses serviços e nas indústrias produtoras de insumos e a expansão da força de trabalho neste segmento. Quanto ao capital, a exigência de uma boa aparência requer gastos com serviços e produtos que movem atualmente volumes vultosos de capital. A relevância desses investimentos expressa-se no surgimento de novos produtos, em resposta à demanda gerada pelos motivos já expostos. Mundialmente, a indústria de cosméticos e perfumaria realiza negócios que envolvem bilhões de dólares e ocupam milhões de pessoas e, no Brasil, passou nos últimos anos por um grande crescimento. 5 A incipiente bibliografia sobre a beleza e seus serviços restringe a discussão teórica sobre o assunto, ficando limitada basicamente às referências de origem norte-americana. A leitura desses estudos permite o estabelecimento de algumas hipóteses sobre essas questões, que nortearão este trabalho. Primeiro, deve-se 3 Dois surveys realizados nos Estados Unidos e um no Canadá: Quality of American Life Survey (QAL) em 1971, com 2.164 participantes, com um espectro de análise mais amplo, não prioriza, porém, o mercado de trabalho; Quality of Employment Survey (QES) em 1977, envolvendo 1.515 trabalhadores; e The Canadian Quality of Life Study (QOL) em 1981, com 3.415 observações. Para o Brasil não foi encontrada nenhuma pesquisa sobre o assunto. 4 A conclusão de tais investigações é de que, tudo o mais permanecendo constante, o salário das pessoas com aparência abaixo da média é menor do que o daquelas cuja aparência está dentro da média e, além disso, há um prêmio em salário para as pessoas com muito boa aparência; esse diferencial, porém, é menor do que a penalidade pela má aparência. Surpreendentemente os autores concluem que a penalidade e o prêmio podem ser mais altos para os homens, mas essas diferenças de gênero aparentemente não são relevantes. Esta conclusão foi possível pela análise combinada das três pesquisas. 5 Neste texto as indústrias produtoras de insumos referem-se a cosméticos e perfumaria que, na literatura mundial, está sempre referida a esses serviços. Para uma idéia da importância dessa indústria no mundo, a Avon atua em 131 países, com 43 fábricas e 33.700 funcionários, emprega como revendedoras 2,3 milhões de pessoas, tendo auferido, com seus negócios mundiais, em 1996, uma receita líquida de cerca de US$ 5,08 bilhões. No Brasil, essa empresa, em 1995 e 1996, cresceu 33% e 20%, respectivamente ( Gazeta Mercantil, 11/2/1998). O grupo Beiersdorf (BDF), detentor da marca Nívea, em 1996 teve um faturamento mundial de cerca de US$ 3,5 bilhões, está presente em 149 países nos cinco continentes e é apenas o nono no ranking mundial de cosméticos. Esse grupo deve investir no Brasil cerca de US$ 30 milhões na construção de sua primeira fábrica, no período 1996/2001 ( Gazeta Mercantil, 28 e 29/5/1997 ). A BELEZA COMO VARIÁVEL ECONÔMICA — REFLEXO NOS MERCADOS DE TRABALHO E DE BENS E SERVIÇOS 3 ressaltar a importância que as culturas, em geral, têm dado ao atributo beleza e à possibilidade que todos têm de, com um banho de beleza , melhorar sua aparência física. Tal comportamento se reflete na economia, seja no crescimento da indústria de perfumaria e cosméticos, seja nos serviços relativos a esse predicado (serviços de higiene pessoal). Segundo, a literatura de ciências sociais admite que a aparência física é um grande discriminador nos processos seletivos de mão-deobra. Aristóteles já considerava a beleza pessoal uma apresentação melhor do que uma carta de recomendação [Hamermesh e Briddle (1994)]. Como foi enfatizado anteriormente, há pesquisas mostrando a importância desse atributo no mercado de trabalho, sendo responsável inclusive pelo diferencial de renda entre os trabalhadores. Por essa razão, cresceu a demanda de serviços ligados à beleza e à melhoria da aparência física. Por fim, essa nova forma de discriminação e a maior inserção da mulher no mercado de trabalho, nos últimos anos, provocaram um forte impacto na demanda de bens e serviços de higiene pessoal. Outro aspecto que merece ser avaliado diz respeito ao fato de as atividades de higiene pessoal corresponderem a um conjunto de serviços locais de consumo final, os quais não são afetados pelo movimento de globalização, característico de outros segmentos do setor serviços, principalmente aqueles ligados à produção (financeiro, seguro, informática, engenharia e transporte). A questão tecnológica e a internacionalização do segmento estão diretamente ligadas à oferta de produtos (cosméticos/perfumaria), mas a prestação dos serviços de beleza permanece com uma marca local/individual. Assim, os aspectos relevantes da análise dessas atividades devem-se, principalmente, à sua capacidade de gerar postos de trabalho, embora estes possam ser |
| File Format | PDF HTM / HTML |
| Alternate Webpage(s) | http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_0618.pdf |
| Language | English |
| Access Restriction | Open |
| Content Type | Text |
| Resource Type | Article |